Café d'Enfer
Na chegada à rue Daguerre, em busca do apartamento, passamos pela feira livre. Vendedores gritando morangos, cerejas. Queijos. Carnes que não comemos - somos vegetarianos num país em que tradicionalmente se devoram bifes de cavalo, escargots, ostras, fígado de ganso, coelhos, rãs, oursin, gigot d’agneau e afins.
Venta. Ameaça chover. Um homem me cumprimenta, de passagem pela feira, vendo as malas: bienvenue en France.
Vous aussi, mon ami: você também. O rosto dele é o de um imigrante mais ou menos assimilado pela cidade.
O livro que estou lendo se chama We’ll Always Have Paris: Sex and Love in the City of Light, do crítico de cinema John Baxter. Leio: “All Paris stories are to some extent stories of love – love requited or unrequited, knowing or innocent, spiritual, intellectual, carnal, doomed” (“todas as histórias de Paris são, até certo ponto, histórias de amor – amor correspondido ou não correspondido, experiente ou inocente, espiritual, carnal, predestinado”).
Os morangos, as cerejas, flores de lavanda em potes na calçada. O Café d’enfer (“Café do inferno”) fazendo trocadilho com o Boulevard Denfert, nas proximidades. As malas rolando pela rua de pedestres.
Na primeira vez que cheguei em Paris tinha 18 anos e vim para morar. Acabei me mudando para Avignon, fui cantar MPB num restaurante chamado Tudo Bem – ganhava gorjetas extra com “Essa moça tá diferente”, do Chico, tema de um comercial da Orangina (espécie de Fanta laranja daqui). Vim de novo a Paris quase dez anos depois. E a última vez foi no ano passado, fiquei quinze dias hospedada com o amigo de origem argelina que estuda filosofia e mora de favor num conjunto de chambres de bonne num endereço chique (as chambres de bonne são minúsculos quartos reservados antigamente à criadagem, com um banheiro comum e no último andar dos prédios, o que pode equivaler a vários lances de escada).
Quando estive aqui no ano passado topei com o João Paulo Cuenca na rua. Ele estava barbudo, quase não reconheci. Estávamos no meio de um monte de pedestres no Boulevard Saint-Michel. Parece o Cuenca, eu pensei. Aí escutei: Adriana?
Bienvenue en France.
Vous aussi, mon ami. Todos mais ou menos assimilados pela cidade.
Chove fino, uma chuva inocente. Precisamos comprar adaptadores para as tomadas francesas.
Venta. Ameaça chover. Um homem me cumprimenta, de passagem pela feira, vendo as malas: bienvenue en France.
Vous aussi, mon ami: você também. O rosto dele é o de um imigrante mais ou menos assimilado pela cidade.
O livro que estou lendo se chama We’ll Always Have Paris: Sex and Love in the City of Light, do crítico de cinema John Baxter. Leio: “All Paris stories are to some extent stories of love – love requited or unrequited, knowing or innocent, spiritual, intellectual, carnal, doomed” (“todas as histórias de Paris são, até certo ponto, histórias de amor – amor correspondido ou não correspondido, experiente ou inocente, espiritual, carnal, predestinado”).
Os morangos, as cerejas, flores de lavanda em potes na calçada. O Café d’enfer (“Café do inferno”) fazendo trocadilho com o Boulevard Denfert, nas proximidades. As malas rolando pela rua de pedestres.
Na primeira vez que cheguei em Paris tinha 18 anos e vim para morar. Acabei me mudando para Avignon, fui cantar MPB num restaurante chamado Tudo Bem – ganhava gorjetas extra com “Essa moça tá diferente”, do Chico, tema de um comercial da Orangina (espécie de Fanta laranja daqui). Vim de novo a Paris quase dez anos depois. E a última vez foi no ano passado, fiquei quinze dias hospedada com o amigo de origem argelina que estuda filosofia e mora de favor num conjunto de chambres de bonne num endereço chique (as chambres de bonne são minúsculos quartos reservados antigamente à criadagem, com um banheiro comum e no último andar dos prédios, o que pode equivaler a vários lances de escada).
Quando estive aqui no ano passado topei com o João Paulo Cuenca na rua. Ele estava barbudo, quase não reconheci. Estávamos no meio de um monte de pedestres no Boulevard Saint-Michel. Parece o Cuenca, eu pensei. Aí escutei: Adriana?
Bienvenue en France.
Vous aussi, mon ami. Todos mais ou menos assimilados pela cidade.
Chove fino, uma chuva inocente. Precisamos comprar adaptadores para as tomadas francesas.
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