amores expressos, blog da Adriana

sábado, 30 de junho de 2007

Igualdade e diferenças

"Égalité : ne transigeons pas !" Com essa palavra de ordem, 500 mil pessoas foram às ruas de Paris ontem para uma parada gay, a Marche des fiertés LGBT (lesbiennes, gaies, bi et trans), que estampou a cidade com vários arco-íris e balões coloridos. O encontro festivo foi também reivindicativo, dominado este ano por duas promessas de campanha do Sarkozy: a do casamento civil e a da criação de um estatuto para o padrasto ou madrasta em famílias homoparentais.
imagem colhida no Marais: o cartaz critica o programa de saúde do Sarkozy e diz: nós não sobreviveremos - e você também não.
*

O jeito blasé do parisiense é uma doença contagiosa. É preciso um cuidado imenso, ou daqui a pouco você já está achando que deve deixar mesmo um pouco de comida no prato - não importa a fome que se passe noutros cantos do mundo.
A esse respeito, lembro-me do que escreveu Roland Barthes em O império dos signos sobre a relação dos japoneses com a comida, comparada à dos franceses.
Um francês está sempre agindo como se não sentisse fome. Cena clássica é a da parisiense magra, elegante e fumante no café, pela manhã, puxando pedacinhos preguiçosos do croissant, como se comer fosse uma obrigação aborrecida. Disse-me um parisiense, no ano passado, que isso de comer pão nas refeições é desprezível. Você nunca deve demonstrar que sente fome, mesmo que sinta.
Já os japoneses, como observou Barthes, tratam a comida com reverência e não se importam em demonstrá-lo. Mas é uma atitude comedida e justa, e o aspecto visual da comida é tão importante quanto o sabor. Come-se até o fim e, se os preceitos zen-budistas forem seguidos, lava-se a tigela depois com um chazinho ou água morna e bebe-se o líquido, de modo a não desperdiçar nada.

*

Um parisiense te insulta. Você devolve o insulto. Estabeleceu-se entre vocês uma relação de cordialidade mútua. De respeito. De quase admiração.