amores expressos, blog da Adriana

quinta-feira, 12 de julho de 2007

porque la clave de la coincidencia es otra:

Encerro este blog hoje, e dentro de algumas horas me arrasto pelos corredores subterrâneos de Paris, pego o RER aqui mesmo na estação Denfert-Rochereau (na esquina da rua daquele fotógrafo... como se chama, déjà?) direto até o aeroporto Charles de Gaulle.

Minhas malas são cada vez mais leves.
Acho que o que os olhos vêem se costura por trás deles, num espaço que desconhece fronteiras, que acolhe este céu algodoado de Paris e pensa: nunca vai ser meu, mesmo que eu volte a morar aqui um dia. Nunca vai ser mais meu do que qualquer outro céu. O do Rio de Janeiro inclusive, ou o do Planalto Central, ou o céu do Colorado (mais baixo do que os outros céus?).
Por isso mesmo, o céu de Paris pode ser meu.
Meu: pronome possessivo despossessivizado.

Creio que encontrei o livro que vim buscar aqui. Ou ele me encontrou, o que dá no mesmo. E me despeço com um trecho do Vilém Flusser, filósofo judeu nascido em Praga que morou também no Brasil, na Itália, na França:

“Estrangeiro (e estranho) é quem afirma seu próprio ser no mundo que o cerca. Assim, dá sentido ao mundo, e de certa maneira o domina. Mas o domina tragicamente: não se integra. O cedro é estrangeiro no meu parque. Eu sou estrangeiro na França. O homem é estrangeiro no mundo.”


quarta-feira, 11 de julho de 2007

de nouveau, Cortázar

HAPPY NEW YEAR

Mira, no pido mucho,
solamente tu mano, tenerla
como un sapito que duerme así contento.
Necesito esa puerta que me dabas
para entrar a tu mundo, ese trocito
de azúcar verde, de redondo alegre.
¿No me prestás tu mano en esta noche
de fìn de año de lechuzas roncas?
No puedes, por razones técnicas.
Entonces la tramo en el aire, urdiendo cada dedo,
el durazno sedoso de la palma
y el dorso, ese país de azules árboles.
Así la tomo y la sostengo,
como si de ello dependiera
muchísimo del mundo,
la sucesión de las cuatro estaciones,
el canto de los gallos, el amor de los hombres.

Passage du désir

Na casa da Marie Ange, a conversa mais animada foi sobre a loja Passage du désir. Estive na filial do Beaubourg, inaugurada faz dois meses. É "a primeira 'love store' de Paris", uma sex shop bonita, de portas abertas para a rua, num local bacana. Vêem-se casais (de todos os tipos), gente solteira, homens, mulheres, de idades variadas, interessando-se por uma gama generosa de produtos que vão desde velas e óleos a aparatos mais hardcore. Ninguém fica constrangido, e no caixa a vendendora ainda diz: ah, super esse produto que você está levando, já experimentei etc. Dali as pessoas seam com a sacolinha ostentando orgulhosamente o carimbo com o coração e o nome da loja.
chez Marie Ange:



*

Amanhã é meu último dia aqui. Arrumo as malas.



Antes, deixo, entre parênteses, um convite, para quem puder e quiser aparecer: lanço o meu novo romance na semana que vem, no Rio. Terça, dia 17, na Travessa de Ipanema, a partir das oito. É o romance que me levou em viagem ao Japão, no ano passado.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Changing places

Quando tentei finalmente me sentar no Café d'Enfer, estava fechado. O inferno não recebeu visitantes ontem, mesmo sendo o dia do turismo em Paris.
Diante da porta de casa havia esse pássaro morto. Havia esse outro pássaro na gaiola do homem que vinha pela calçada na direção oposta. Um pássaro amarelo. O pássaro morto diante da porta de casa era maior e com aquela cor indefinida dos pássaros que não são de raça nobre.
Passavam nuvens rápidas pelo céu e o azul era só uma pequena fragilidade entre dois tons de cinza.




O pássaro morto não está mais no meio-fio. Em pouco tempo alguém removeu. Um bicho levou. Não se sabe.

O céu e a terra estão changing places, como no cd de Tord Gustavsen.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Rayuela, céu, inferno



Fica a uma quadra da minha rua, o Cemitério de Montparnasse. O tempo estava bonito de manhã.
Consegui ver algumas pessoas que estava procurando. Ionesco, Tristan Tzara, Cortázar e Carol Dunlop (com um belo cronópio - será um cronópio? - encimando o túmulo), Sartre e Simone, Marguerite Duras.
Não encontrei Man Ray e Jean-Pierre Rampal, que por algum motivo se enconderam de mim.
No túmulo super simples de Sartre e Simone, o céu já estava fechando. Trovoadas. Bastou andar uns cem metros até Marguerite Duras e caiu um verdadeiro temporal. Granizo. Vento frio.
Descobri que meu guarda-chuva tem goteiras. Voltei correndo pra casa me devendo uma outra visita em busca de Baudelaire, Saint Saëns, Maupassant, Cioran, Beckett, Brancusi, Susan Sontag.
Cheguei em casa ensopada da cintura aos pés, troquei de roupa, coloquei a calça jeans na máquina. Passados dez minutos, se tanto, o tempo abriu de novo. Um sol lindo. Um céu inteiramente azul.


Há um pouquinho de rayuela em tudo isso. Eu já devia saber. "Podemos saltar del cielo a la tierra en unos instantes o en una eternidad."
Mas acho que hoje será feita la vuelta al día en ochenta mundos. Ça commence à l'enfer, claro.




domingo, 8 de julho de 2007

A foto do dono e o dono da foto


as cores de St Eustache


e o dono da foto, em cores

Ça se fête II!

Hoje o meu filho Biel faz nove anos. Por causa de umas questões paralelas (ou seja, este projeto), vamos comemorar juntos no próximo sábado, quando eu estiver de volta. Mas queria deixar para ele aqui este vídeo divertido e parisiense que encontrei no You Tube.
Ele já está grande demais para fazer como o Gabriel do vídeo, mas quem sabe um dia a gente vem junto a Paris e podemos roller por aqui os dois. Ou os cinco, devo dizer. Ou os seis, devo dizer. Pensando bem, os sete!
Certo: faz mais ou menos 25 anos da última vez que coloquei rodinhas debaixo dos pés, mas, pelo que me lembro, é só deslizar.

UM BEIJÃO, BIEL! JOYEUX ANNIVERSAIRE!

sábado, 7 de julho de 2007

Paris Cinéma

O sol já estava ensaiando uma aparição ontem. Hoje, veio que veio. Aqui, Tati e Marie Ange antes da sessão do filme romeno "4 meses, 3 semanas e 2 dias", vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em pré-estréia no festival Paris Cinéma. (Ao sair da sessão do filme-porrada de Cristian Mungiu, que merece todos os louros, as carinhas, porém, eram outras.)

Quai St Michel

pelo Daniel Mordzinski

Villepin, Sarkô, Lulá


Dentro das investigações do caso Clearstream, Villepin está no centro das suspeitas de conspiração contra Sarkozy. No dia 5 houve busca em seu apartamento, no 17º arrondissement de Paris, sem a presença do ex-primeiro-ministro. No dia seguinte, a busca foi feita em seu escritório, na avenue Kléber. Dessa vez com sua presença. Os policiais saíram com uma caixa e uma valise grandes. Villepin nega o envolvimento. Segundo o Libération, parece incontornável que Villepin responda à acusação de cúmplice em denúncia caluniosa, envolvendo Sarkozy e falsas listas bancárias de Clearstream, a empresa de Luxemburgo.

Dia 5, quinta-feira, Lula também esteve no Libération, que publicou matéria de capa e entrevista com ele – “Mon plan pour la planète”, “Meu plano para o planeta”.
Lula discursou como convidado de honra, em Bruxelas, na abertura da conferência internacional de biocombustíveis, da Comissão Européia.
Em seu blog “À francesa”, do Globo online, Mário Camera traduz este trecho da matéria do Libé: "É preciso ouvir o presidente Lula, sindicalista e presidente, profeta do possível (…) Bom social-democrata, Lula é uma dessas pessoas que querem escapar das lógicas simples (…) levado ao poder pela população de um país largamente agrícola em plena transformação, reeleito facilmente apesar dos escândalos que mancharam sua autoridade moral, ele vê nos combustíveis verdes uma reabilitação do trabalho no campo ao mesmo tempo que uma solução fundada sobre os últimos avanços da ciência…”
Leia aqui (em francês - désolée!) a declaração de Lula para o Libé, o principal jornal de esquerda da França, fundado em 1973 por Sartre.
À suivre...

más allá de la imagen

Persepolis, o filme de animação de Marjane Satrapi, prêmio especial do júri em Cannes, é uma maravilha. Realizado a partir das graphic novels da própria autora, iraniana nascida em Rasht, em 1969, crescida em Teerã e radicada em Paris.
Fiquei observando o público da sessão das 18:20 de sexta-feira, no UCG Danton, no Boulevard Saint Germain. Pessoas sozinhas, assim como eu. Homens, mulheres. Casais. Grupos de senhoras. Grupos de adolescentes.

Então, aconteceu. Um espírito qualquer me atropelou no meio da rua. Alguma coisa me acertou em cheio, no estômago, na retina, no coração. Preciso corrigir o autor que cito lá nos primeiros posts desta estadia, segundo o qual todas as histórias de Paris são, em algum nível, histórias de amor. Eu diria que todas as histórias de Paris são, em algum nível, histórias de amor por Paris.


*


No Espai Gastronòmic Català, na Maison de la Catalogne - fica na Cour do Commerce St. André, "uno de los pasajes más bonitos de París" - almoço com o meu amigo Daniel Mordzinski, fotógrafo argentino que mora aqui faz mais de 20 anos.
Vamos depois a St Julien le Pauvre, a igreja mais antiga (e mais bonita) de Paris. Ortodoxa. Sem a magnificência das grandes igrejas góticas.
No Quai St Michel, passa um velho parisiense de bicicleta. Pára. Comenta que a pouca luz não lhe parece apropriada para fotografia. Faz brincadeiras. Simpático. Depois vai embora, pedalando, bem perto do rio.

*

Pode parecer que Chantal Maillard, a poeta nascida na Bélgica e radicada em Málaga, não tem nada a ver com Paris. Mas tem. Abaixo, um dos poemas de "Matar a Platón".

No existe el infinito:
el infinito es la sorpresa de los límites.
Alguien constata su impotencia
y luego la prolonga más allá de la imagen, en la idea,
y nace el infinito.
El infinito es el dolor
de la razón que asalta nuestro cuerpo.
No existe el infinito, peso sí el instante:
abierto, atemporal, intenso, dilatado, sólido;
en él un gesto se hace eterno.
Un gesto es un trayecto y una encrucijada,
un estuario, un delta de cuerpos que confluyen,
más que un trayecto un punto, un estallido,
un gesto no es inicio ni término de nada,
no hay voluntad en el gesto, sino impacto;
un gesto no se hace: acontece.
Y cuando algo acontece no hay escapatoria:
toda mirada tiene lugar en el destello,
toda voz es un signo, toda palabra forma
parte del mismo texto.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Largo

Cinza e branco do céu, o vento mexendo com as plantas que nascem no telhado.
O caminhão de lixo passa: estardalhaço de vidro.
Mas há um silêncio dentro de tudo isso. Como há um tempo distendido dentro da pressa desta cidade.
As pessoas se esbarram nas ruas. Os túneis de metrô carregam gente num movimento presto. Os pés das pessoas as carregam pelos túneis de metrô num movimento presto. Mas existe a pausa. Existe o assobio. O tempo largo, suave, cantabile, dentro do corpo da cidade. Um órgão que pulsa tranqüilidade.
Mãos frias, o ar fresco pela janela aberta. O anel que tu me deste. O jardim que tu me deste.
Cinza e branco do céu, passos no andar de cima, talvez um café para espichar esta manhã.


Paris snowbox pelo Alberto Levy, o Beto-de-Milão

*

No blog Langue sauce piquante ("Língua molho picante") do Le Monde online, Martine Rousseau e Olivier Houdart comentam e defendem o uso, pelo jornal, no último dia 4, do termo "Etats-Uniens" ("estadunidenses") em vez de "Américains". Os motivos são os óbvios. E terminam citando Pierre Bayle, o historiador e crítico francês do século XVII: "Notez que la naissance d’un mot est pour l’ordinaire la mort d’un autre ; c’est comme à l’égard des productions de la nature". ("Observem que o nascimento de uma palavra é normalmente a morte de outra; é como acontece na natureza.")
*
Paulo, Mikael e Giulia ficaram emperrados no Galeão, tentando voltar pra Denver, mas por causa de outro caos, aéreo, marítimo, terrestre e anímico, o da burocracia local. A Polícia Federal implicou com a autorização de embarque "estadunidense" das crianças. Vão ter que arranjar uma verde e amarela. Bonne chance.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

My baby just cares for me

Esperando para ver onde o sol bate e se firma, neste verão chuvoso, ouvindo Nina Simone, achei isto aqui no You Tube.

auto-retrato no MAM

Robert Delaunay et moi


quarta-feira, 4 de julho de 2007

I love rien


Vi a estampa acima outro dia numa camiseta: I love rien, I'm parisien (ou: eu não amo nada, sou parisiense). Ilustra tão bem o blasé way of life desta cidade.

Enquanto isso, lá em casa (em Denver), a polícia estava procurando fogos de artifício ilegais nos dias que antecediam o 4 de julho - hoje.

Como dizia certo filósofo jagunço, viver é muito perigoso.

A mon seul désir





Cliques feitos pelo Paulo, há alguns dias, de uma das livrarias mais célebres de Paris, a Shakespeare and Company, que Henry Miller dizia ser "a wonderland of books" (uma terra encantada de livros).
Tem uma história bacana e um dono legendário, o George Whitman, que a inaugurou em 1951, usando (com autorização) o nome da Shakespeare and Company parisiense original, de Sylvia Beach. Entre outras façanhas, Sylvia publicou em 1922 o Ulisses do Joyce, que não arranjava editoras fora dos países de língua inglesa.

A Shakespeare and Co de George Whitman tem sido, também, porto seguro de muitos autores e artistas, principalmente os iniciantes. Consta que mais de 50 mil deitaram a cabeça nos travesseiros da livraria, para dormir.

*
Perdi o filme A vida dos outros (Das Leben der Anderen), de Florian Henckel von Donnersmarck, nos cinemas do Rio e de Denver. Assisti aqui em Paris ontem, junto com a Tatiana Salem Levy (que está publicando o primeiro romance dela, A chave da casa, no Brasil e em Portugal), depois de uma quase-peregrinação pelos cafés da Champs-Elysées em busca de uma pression e de uma taça de vinho que custassem menos de 8 Euros.

O cinema, por outro lado, foi de graça - graças à carteirinha mágica da Tati.

A vida dos outros está no topo da preferência do público e da crítica por aqui. É um filme excepcional.

Voltando depois para casa, sozinha, pensei no que o Luiz Ruffato postou no blog dele, sobre a sensação de segurança. Quase uma da manhã, eu caminhando pelas ruas relativamente escuras daqui de perto, e não me vinha aquele impulso de olhar para os lados e agarrar a bolsa. Se apertei o passo, foi porque estava frio mesmo. Quase parei para fazer um take com a filmadora da produção, que estava na minha bolsa. Se não parei, foi porque estava frio mesmo.

Antes disso, fui abordada pela primeira vez num túnel de metrô pelo pessoal da fiscalização, pedindo bilhete. Numa boa.

*


A leitura de hoje é um livro sobre a série de 6 tapeçarias "A dama do unicórnio". A coisa mais poderosa e emocionante que vi nestas quase três semanas aqui. Foi tecida em Flandres no século XV, a partir de desenhos feitos na França. Prosper Mérimée as descobriu no castelo de Boussac, em 1841, e depois George Sand as tornou célebres nos escritos dela. Acredita-se que cada uma represente um sentido, e a sexta, intitulada A mon seul désir, refira-se ao sexto sentido, a compreensão, ou remeta ao Liberium arbitrium dos filósofos gregos. Retrata a dama guardando numa caixa as jóias que tirou.

"A dama do unicórnio" está no Museu da Idade Média, de onde também é a imagem abaixo. Antes do pôr-do-sol...

segunda-feira, 2 de julho de 2007

pariso


Relendo Leminski, de noite quase amanhã, depois da chuva, do RER, das escadas, das aulas de canto da vizinha, de arrumar a cozinha, de arrumar os livros, de adiar o trabalho, de pesar os olhos, de fazer silêncio, de fazer um chá, de sorrir comigo, mas de sentir falta, mas de sorrir comigo, mas de sentir falta, de pensar no avião céu de Paris/Atlântico/Rio. Vai o Leminski, aqui - vá lá.

pariso
novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar

só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar

Viagem ao fim da noite

Hoje tem show do Pat Metheny e do Brad Mehldau no L'Olympia. Para quem quiser/puder pagar ingressos entre €56-€89. Eu me contento em ouvir o CD deles.

*




Surpreendente a Monumenta 2007 no Grand Palais com as obras do Anselm Kiefer, "trabalho demiúrgico de um pintor sem normas", segundo a crítica. Fortes - monumentais.
Uma delas é inspirada num poema de Paul Celan, que copio abaixo, em francês e no original alemão, sem me atrever a traduzir (olá, Quel!). Outras se inspiram em Ingeborg Bachmann (o poema Nebelland ou "terra da neblina") e em Louis-Ferdinand Céline (Voyage au bout de la nuit, trinta quadros dispostos em duas seções sem começo ou fim, misturando barcos, mar e ferrugem). São as duas obras que cliquei e reproduzo acima, respectivamente.


Le secret des fougères (Paul Celan)

Sous la voûte des épées le coeur vert-feuilles des ombres s'examine.
Les lames sont luisantes: qui, dans la mort, ne traînerait devant des miroirs ?
Et puis, on sert ici dans des cruches le breuvage de mélancolie vivante :
son bouquet de ténèbres s'exhale et monte, avant qu'elles boivent, comme si elle n'était pas d'eau,
comme si elle était ici belle pâquerette qu'on effeuille et questionne sur un amour plus obscur,
sur des coussins plus noirs pour la couche, ou des cheveux plus lourds...

Mais ici on ne tremble que pour la lueur du fer,
et si doit surgir l'éclat d'une chose encore, que la chose soit épée.
Nous ne vidons la cruche de la table que parce que des miroirs régalent :
qu'il s'en brise un en deux où nous sommes verts comme feuilles !

(traduction Jean Pierre Lefebvre)

Das Geheimnis der Farne (Paul Celan)

Im Gewölbe der Schwerter besieht sich der Schatten laubgrünes Herz.
Blank sind die Klingen: wer säumte im Tod nicht vor Spiegeln?
Auch wird hier in Krügen kredenzt die lebendige Schwermut:
blumig finstert sie hoch, eh sie trinken, als wär sie nicht Wasser,
als wär sie ein Tausendschön hier, das befragt wird nach dunklerer Liebe,
nach schwärzerem Pfühl für das Lager, nach schwererem Haar...

Hier aber wird nur gebangt um den Schimmer des Eisens,
und leuchtet ein Ding hier noch auf, so sei es ein Schwert.
Wir leeren den Krug nur vom Tisch, weil uns Spiegel bewirten:
einer springe entzwei, wo wir grün sind wie Laub!