amores expressos, blog da Adriana

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A mon seul désir





Cliques feitos pelo Paulo, há alguns dias, de uma das livrarias mais célebres de Paris, a Shakespeare and Company, que Henry Miller dizia ser "a wonderland of books" (uma terra encantada de livros).
Tem uma história bacana e um dono legendário, o George Whitman, que a inaugurou em 1951, usando (com autorização) o nome da Shakespeare and Company parisiense original, de Sylvia Beach. Entre outras façanhas, Sylvia publicou em 1922 o Ulisses do Joyce, que não arranjava editoras fora dos países de língua inglesa.

A Shakespeare and Co de George Whitman tem sido, também, porto seguro de muitos autores e artistas, principalmente os iniciantes. Consta que mais de 50 mil deitaram a cabeça nos travesseiros da livraria, para dormir.

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Perdi o filme A vida dos outros (Das Leben der Anderen), de Florian Henckel von Donnersmarck, nos cinemas do Rio e de Denver. Assisti aqui em Paris ontem, junto com a Tatiana Salem Levy (que está publicando o primeiro romance dela, A chave da casa, no Brasil e em Portugal), depois de uma quase-peregrinação pelos cafés da Champs-Elysées em busca de uma pression e de uma taça de vinho que custassem menos de 8 Euros.

O cinema, por outro lado, foi de graça - graças à carteirinha mágica da Tati.

A vida dos outros está no topo da preferência do público e da crítica por aqui. É um filme excepcional.

Voltando depois para casa, sozinha, pensei no que o Luiz Ruffato postou no blog dele, sobre a sensação de segurança. Quase uma da manhã, eu caminhando pelas ruas relativamente escuras daqui de perto, e não me vinha aquele impulso de olhar para os lados e agarrar a bolsa. Se apertei o passo, foi porque estava frio mesmo. Quase parei para fazer um take com a filmadora da produção, que estava na minha bolsa. Se não parei, foi porque estava frio mesmo.

Antes disso, fui abordada pela primeira vez num túnel de metrô pelo pessoal da fiscalização, pedindo bilhete. Numa boa.

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A leitura de hoje é um livro sobre a série de 6 tapeçarias "A dama do unicórnio". A coisa mais poderosa e emocionante que vi nestas quase três semanas aqui. Foi tecida em Flandres no século XV, a partir de desenhos feitos na França. Prosper Mérimée as descobriu no castelo de Boussac, em 1841, e depois George Sand as tornou célebres nos escritos dela. Acredita-se que cada uma represente um sentido, e a sexta, intitulada A mon seul désir, refira-se ao sexto sentido, a compreensão, ou remeta ao Liberium arbitrium dos filósofos gregos. Retrata a dama guardando numa caixa as jóias que tirou.

"A dama do unicórnio" está no Museu da Idade Média, de onde também é a imagem abaixo. Antes do pôr-do-sol...